Desabafo de um professor - 6/10/2008

Lisboa, 6 de Outubro


Desabafo de um Professor

Hoje em dia, não se fala noutra coisa a não ser no “Magalhães”, no Plano Tecnológico, quer na televisão, nas escolas, nos jornais, na compra de não sei quantos “Magalhães” pelo presidente Hugo Chavez.
O que é o Plano Tecnológico? É distribuir computadores por todos os alunos, do 1º ao 12ºano? E onde fica o conhecimento, a aquisição de competências, o saber estar e o saber ser? E qual será o papel dos professores?
Analisando atentamente a Resolução do Conselho de Ministros n.º 137/2007 verifico que, o grande objectivo do Plano Tecnológico é colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados na modernização tecnológica do ensino em 2010. Um computador para cada dois alunos, velocidade de ligação à Internet de 48 Mbps, um videoprojector por sala, um quadro interactivo por cada três salas e 90% dos docentes com certificação nas TIC, requer sem dúvida muito investimento e é um objectivo muito ambicioso.
Dos diversos projectos e na sua concretização, destaco o seguinte:
- Modernizar a escola. Todos sabemos é necessário reforçar e actualizar o parque informático, uma vez que as escolas (pelo menos as escolas básicas) não têm receitas próprias nem um orçamente que permita fazer esta renovação e/ou aquisição. As bibliotecas escolares têm computadores mas bastantes antigos, não dispõem de impressoras suficientes para a utilização quer de alunos quer de professores (muitas das vezes nem sequer de tinteiros). Mas por outro lado existem escolas com edifícios bastante degradados, salas pequenas com poucas condições, mesas e cadeiras inadequadas à estatura dos alunos, sem estores para proteger do sol. Nestes casos onde colocar todo este equipamento que está para chegar? Não seria prioritário melhorar as condições dos espaços e só depois o parque informático?
- Cartão electrónico e escol@segura - Já não era sem tempo, era essencial reforçar a segurança das instalações, dos equipamentos, prevenir roubos evitando o uso de dinheiro dentro dos espaços escolares.
- Formação inicial dos docentes pouco centrada na utilização das TIC no ensino. Esta é uma realidade e não está a ser satisfeita com a mesma rapidez que a introdução de computadores. Os centros de formação não disponibilizam formação nas diferentes áreas disciplinares, nem mesmo na utilização dos quadros interactivos que já foram distribuídos pelas escolas no ano lectivo anterior. A maioria dos professores se quer formação tem de a pagar.
- Falta de conteúdos educativos digitais (em Português), este recursos são ainda muitos escassos na maioria das áreas curriculares. Na área da matemática já surgem algumas aplicações em português, um banco de questões (para alunos e professores), software de geometria dinâmica. E noutras línguas existem uma imensidão de recursos, mas que são um obstáculo a quem não domina e não está familiarizada com o uso de outras línguas.
- Introdução das TIC nos processos de ensino e de aprendizagem. A internet é uma fonte inesgotável de informação, instrumento imprescindível na pesquisa de informação. Facilitar a utilização universal por todos os intervenientes no processo educativo, poderá promover a igualdade de oportunidades entre todos os alunos. É essencial que esta esteja acessível em todos os espaços escolares. No entanto um dos objectivos é a utilização das TIC por todos os docentes em pelo menos 25 % das aulas (até 2010). Muitos professores ainda não adaptaram as suas práticas à utilização nas TIC, é preciso apoiar estes professores e não exigir a utilização das TIC a qualquer custo. Alguns professores mostram-se reticentes no seu uso. Uns porque os alunos dominam a tecnologia e outros porque temem por perder o controlo da aula uma vez que as dinâmicas de aula são completamente diferentes do que estavam habituados.

Mas será a tecnologia uma solução? Pensar que o acesso às TIC e o seu uso intensivo vão reduzir o abandono escolar e diminuir o insucesso, será correcto?
O recurso às TIC deve ser só mais um recurso a utilizar na sala de aula, entre muitos outros como o papel e lápis, os materiais manipuláveis, o quadro negro. É utópico e errado pensar que os alunos devem recorrer às TIC em todas as situações, devem aprender a escrever e devem escrever com o recurso ao papel e ao lápis. Devem aprender a contar e calcular também utilizando papel e lápis e não recorrer abusivamente à calculadora. É verdade que a calculadora existe, que é uma tecnologia mas o aluno devem aprender primeiro a calcular e depois utiliza-la.
Não há dúvida que as TIC são uma mais-valia para o ensino, mas devemos saber utiliza-las com moderação e como um complemento, um auxiliar, um facilitador, na pesquisa, na busca do saber e não como o detentor de todo o saber.

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